sábado, 30 de setembro de 2017

Escrito por Júlio Hermann.

Desculpa, eu não sei fingir interesse. Não sei estender o papo quando eu não quero levar o alguém pra caminhar na beira da praia. Uma hora todo mundo passa e você passou. Teve um tempo em que eu achei que iria guardar você  pra sempre no baú das boas lembranças, mas nem sempre é assim. É que chega uma hora em que a gente perde o interesse, que o sentimento de unha cravada na pele, de ácido corroendo os órgãos cansa e a gente para de se importar, e correr atrás, e vasculhar a vida da pessoa porque pouco importa. E isso não quer dizer que a gente encontrou outro alguém pra ocupar o espaço que ficou, ou que o que a gente sentia se perdeu porque não era verdadeiro. Significa que uma hora todo mundo passa, que uma hora, quando cansa, quando desgasta a caminhada toda, quando o excesso de soco no estômago sobrecarrega, a gente perde o interesse.
Eu perdi o interesse em você. Gostei de você pra caralho, assumo, mas não gosto mais – e assumir não é fraqueza, é ter consciência que passou, marcou e fez crescer; e eu cresci pra caralho no esbarrar com você. Perdi o interesse quando percebi que ia precisar desistir de mim pra me atirar em você; quando percebi que me atirar em você seria o mesmo que cair de cabeça em uma piscina sem água, que do seu lado em vez de conforto eu seria solavanco, seria colisão entre eu e o sentimento de me sentir sozinho, de me sentir vazio porque você nunca se fez presente de verdade, nunca esteve aqui como dizia estar e sempre se negou a estender a mão. Percebi quando apaguei a luz e fechei a porta e você não disse nada; quando me dei conta que me atirar em você só seria possível se eu deixasse a bagagem de uma vida toda para trás, porque você nunca soube conviver com passados e as outras pessoas a nossa volta. Agora, você não saberá conviver comigo, porque virei passado.
Talvez você também não saiba fingir interesse, não sei. Ou, talvez você saiba até demais e eu me deixei enganar. Não me engano mais; não me engano porque do seu lado eu seria solidão. Você estava do meu lado, mas vagava longe; estava aqui mas não se fazia presente, não se mostrava perto; estava do meu lado, mas era impossível te alcançar porque você se esquivava e corria. E chega uma hora que desgasta, sabe? Chega uma hora em que se entregar sozinho sobrecarrega, quando o fardo fica pesado demais para carregar sozinho porque se sentir sozinho quando se tem alguém do lado é se sentir vazio – e não tem nada mais doloroso do que se sentir vazio. Eu não tenho interesse em me sentir vazio, e também não tenho mais interesse em você.
Chega uma hora que a coisa toda sobrecarrega e a gente abre os olhos pra perceber que não precisa do outro pra se sentir feliz, que o outro em vez de felicidade tem trazido vazio, tem trazido solidão e tem se feito ausente. Talvez você não sinta nada com a minha partida porque já faz um tempo que você tá perto e vive longe. Talvez você não aprenda a conviver com isso tudo quando eu for embora porque você nunca soube lidar com passados. Mas pra você sempre pouco importou, não foi? Agora pra mim também.
Eu não sei fingir interesse. Não sei estender o papo quando não quero levar a pessoa pra passear na beira da praia nem pra morar em mim – e eu já quis te levar pra molhar os pés na água e te ofereci meu peito pra você fazer abrigo, mas você fez com que o fardo ficasse pesado demais quando me pediu pra deixar tudo pra trás para que eu pudesse me atirar em você. Só que você é piscina sem água, e me atirar em você seria sentença de morte de mim mesmo.
Eu perdi o interesse em você, e isso me fez desistir de nós dois.

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